De acordo com o mais recente relatório do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), o País possui 502.783 indígenas na zona rural e outros 315 mil habitando zonas urbanas. Dos 5.570 municípios brasileiros, 827 registram localidades indígenas. Dessas, 632 são terras oficialmente delimitadas. No total, são 305 etnias reconhecidas, com 274 línguas distintas.
No Tocantins, os levantamentos mais recentes do IBGE estimam uma população acima de 14 mil indígenas, distribuídos em nove etnias: Karajá, Xambioá, Javaé (que forma o povo Iny) e ainda os Xerente, Apinajè, Krahô, Krahô-Kanela, Avá-Canoeiro (Cara Preta) e Pankararu. A preservação da língua e das tradições culturais varia conforme cada povo e histórico de sobrevivência.
“Conhecer e respeitar os povos ancestrais que habitam o Tocantins são uma forma de garantir a sobrevivência destes grupos, com toda sua base de conhecimentos tradicionais e riqueza cultural”, pontua o presidente da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa, Jairo Mariano, ressaltando que o Governo do Tocantins possui diversos programas de apoio às etnias tocantinenses, executados por Pastas diversas.
Confira a seguir um resumo sobre cada etnia do Tocantins, sua origem e peculiaridades culturais.
Povo Iny
Os Karajá, Karajá-Xambioá (ou apenas Xambioá) e Javaé formam o povo Iny (pronuncia-se ‘inã’), pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê, família e língua Karajá. Juntos, formam o maior povo do Tocantins, com 6.123 indígenas, conforme o último levantamento.
Essencialmente coletores e pescadores, após longo período de migração, os Iny se fixaram na Ilha do Bananal. Os Karajá da Ilha, ou de cima, também são chamados de ibòò marãdu. Os Javaé vivem às margens do rio Javaé e são denominados o povo do meio e os Xambioá, iraru mahãdu, são os Karajá de baixo e estão localizados na Terra Xambioá, no município de Santa Fé do Tocantins. Destes, os que mais sofreram perdas culturais, especialmente a língua original, em função da convivência com o não indígena, foram os Xambioá.
A confecção de objetos de cerâmica e madeira, a pintura corporal, a arte plumária e as bonecas Ritxokò são tradicionais da cultura Karajá, assim como as festas e os rituais. As mais conhecidas e preservadas são: os rituais do Hetohoky (pronuncia-se retorrocã, que significa Casa Grande) e Aruanã, a Festa do Mel, o Itxeo (Homenagem aos Mortos), Maarasi (Festa da Alegria).
Apinajè
Em torno de 1.913 indígenas vivem na região norte do Estado, na reserva criada em 1985, que abrange os municípios de Tocantinópolis, Maurilândia, Araguatins e Lagoa de São Bento, perfazendo um total de 141.904 hectares. O povo Apinajè se autodenomina Panhi e pertence ao tronco linguístico Macro-Jê. Os indígenas sobrevivem da agricultura de subsistência, da caça, da coleta de babaçu, do qual extraem o óleo das amêndoas, aproveitam a palha para fabricar utensílios domésticos, coberturas de suas casas e as cascas são utilizadas como combustível para cozinhar.
Produzem o artesanato de sementes e miçangas que comercializam nas cidades vizinhas. Entre suas tradições está a Mêkaprî, ritual para fazer o espírito voltar ao corpo do doente; o Pàrkapê, ritual que homenageia os mortos e o fim do luto, chamada festa da Tora Grande.
Xerente
O povo que se denomina Akwê, gente importante, indivíduo, vive na margem direita do rio Tocantins, perto da cidade de Tocantínia, na Terra Indígena Xerente, em um total de 183.542 hectares de área demarcada. Os Xerente também pertencem ao grupo linguístico Macro-Jê e sobrevivem da roça de toco, onde plantam milho, arroz e mandioca.
Os cerca de 3.152 indígenas Xerente são sobreviventes de várias guerras entre povos e massacres promovidos por fazendeiros. Estão distribuídos em mais 80 aldeias. O artesanato é produzido principalmente com a palha de babaçu, seda de buriti, sementes dos quais surgem cestas, balaios, redes, bolsas, esteiras, adereços e de adornos e enfeites. As peças artesanais são comercializadas nas cidades próximas à reserva e acredita-se que a arte de trançar o capim dourado tenha sido repassada pelos Xerente aos moradores das comunidades negras do Jalapão, há cerca de um século.
Entre suas tradições mais preservadas estão o Wakê (Festa de dar nomes), o Kuprê (Homenagem aos mortos), o Padi (Festa do Tamanduá Bandeira) e a corrida de toras de buriti.
Krahô
Conhecidos como os senhores do Cerrado e por sua alegria genuína, o povo Krahô habita terra indígena situada na região de Itacajá e Goiatins, com 302.533 hectares, demarcada em 1976. A última contagem apontava para 2.843, mas suas lideranças acreditam que a população seja bem maior, em função do alto índice de nascimentos.
Todas as suas aldeias apresentam estrutura em forma circular, com habitações em torno de uma área vazia. O pátio central ou Ká, que representa o coração da aldeia, é o lugar em que reúnem-se para dividir o trabalho e tomar decisões importantes para a comunidade. Pertencentes ao tronco Macro-Jê, têm suas aldeias divididas em dois partidos – o do inverno (Katam’jê) e o do verão (Wakm’jê) -, que se revezam no poder de acordo com os períodos de chuva e seca na região.
Os Krahô são reconhecidos pela preservação de suas tradições e celebrações. Possuem como símbolo sagrado uma machadinha de pedra chamada de Khoyré, que passou vários anos sob custódia de uma universidade, até ser recuperada. A corrida de toras em torno do pátio central das aldeias é uma das tradições. As toras de buriti são especialmente preparadas para as festividades, como a Festa da Batata (Panti), a Festa do Milho (pônhê), a Festa Wythô, a Empenação das Crianças e a Feira das Sementes.
Krahô–Kanela
Este povo alega descendência de duas etnias distintas: Krahô e Kanela, ambos povos Timbira (tronco Macro-Jê), originários do Maranhão, de uma região conhecida como Bons Pastos. Os indígenas foram expulsos de suas terras originais pelo avanço da pecuária, que causou uma série de conflitos. O grupo migrou para as terras de Mata Alagada, no município de Lagoa da Confusão, entre os rios Formoso e Javaé, sendo expulso no final dos anos de 1970.
Após um período vivendo na Ilha do Bananal ou espalhados por vários municípios, e uma extensa luta judicial, os Krahô-Kanela conseguiram a regularização da Terra Indígena em Lagoa da Confusão, no início dos anos 2000, além do reconhecimento da Funai como etnia, o que garantiu acesso a ações de assistência, antes negadas a estes indígenas.
Hoje, este povo busca uma retomada dos conhecimentos tradicionais e de sua base cultural, incluindo a revitalização da língua materna, com apoio de instituições de ensino superior. O último levantamento oficial da Funai/IBGE aponta para 39 indígenas desta etnia, mas há registros que citam a existência de quase 100 pessoas.
Avá Canoeiros
Os Avá-Canoeiro autodenominam-se Ãwa, palavra que significa gente, pessoa, ser humano. Na região do Araguaia, são mais conhecidos como Cara Preta. Foram vítimas de um processo de dizimação, decorrente de sua insubordinação ao domínio não índio. Em 2012, havia registro de uma família em Goiás, pequenos grupos dispersos em aldeias Javaé (Canoanã e Boto Velho) e Karajá (Santa Isabel), uma família em Palmas e um grupo isolado dentro do Parque Nacional do Araguaia (Ilha do Bananal).
A língua avá-canoeiro pertence à família tupi-guarani, do grande tronco linguístico tupi, mas com forte influência dos dialetos falados no médio Araguaia e no alto Rio Tocantins.
O primeiro registro dos Avá-Canoeiro envolve uma expedição realizada pelo Capitão Tomaz de Sousa Villa Real, entre Belém do Pará e a capital de Goiás pelo Rio Araguaia, entre 1791 e 1793, com um massacre de indígenas no local conhecido como Ilha do Tropeço, perto da atual cidade de Peixe (TO). Anos mais tarde, um grupo Cara Preta passou a disputar o território da Ilha do Bananal, de ocupação tradicional dos Karajá e Javaé.
Os Avá-Canoeiro do Araguaia têm como meta se reunir em uma futura aldeia na Terra Indígena Taego Ãwa, na região da Mata Azul, no município de Formoso do Araguaia, que hoje se encontra em processo de demarcação.
Pankararu
O grupo Pankararu existente no Tocantins está localizado nos municípios de Figueirópolis, no assentamento Vale Verde, e em Gurupi. São indígenas originários do sertão de Pernambuco, da aldeia Brejo dos Padres, e há cerca de 40 anos migraram para o antigo norte goiano, expulsos pela ação de posseiros.
A Terra Indígena Pankararu, localizada entre os municípios de Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, no sertão pernambucano, próximo ao rio São Francisco, foi homologada somente em 1987. Os Pankararu do Tocantins não quiseram retornar e tiveram o direito ao reconhecimento como povo tocantinense pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Mesmo assim, buscam manter seus costumes e tradições como forma de preservar sua identidade cultural.